A maioria dos golpes aplicados na internet visam subtrair recursos financeiros dos usuários, tendo os mais diferentes caminhos e variados produtos e serviços como chamariz. Entretanto, existem fraudes que, além de suprimir o dinheiro das vítimas, podem lhes causar sérios danos à saúde. São práticas que envolvem o comércio ilegal de remédios e suplementos, além de tratamentos estéticos e medicinais. Em meio a tantas ofertas de "soluções incríveis" para todo tipo de situação, na segunda reportagem da campanha "Não clica que é golpe", o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) alerta para os perigos desse mercado clandestino de falsos produtos e de serviços sem comprovação científica.
O coordenador do Centro de Apoio Operacional do Consumidor do MPSC, Promotor de Justiça Leonardo Cazonatti Marcinko, reconhece o poder de persuasão das propagandas bem elaboradas que lotam as redes sociais, por isso reforça a importância de os consumidores estarem informados e conscientes a respeito dos riscos. Segundo ele, além da possibilidade de pagar por algo que não será entregue, considerando o caráter enganoso de muitas propagandas, adquirir medicamentos, suplementos e tratamentos de saúde ou estéticos sem regulamentação é um ato perigoso contra a própria saúde.
"Sabemos que se criou uma indústria do marketing da enganação, que é extremamente poderosa e toca os consumidores de formas muito convincentes, apelando para temas de relevância pessoal como a autoestima e a saúde física e mental. São motivações que levam as pessoas a tomarem atitudes impensadas, levando exatamente ao caminho contrário do qual pretendiam seguir. Muitas vezes, ingerir um medicamento sem procedência pode gerar consequências ainda piores do que o problema de origem, provocando sofrimento, decepção e inconformidade", lamenta.
Fuja dos milagres
Aparentemente, não há problema de saúde ou estético que não possa ser resolvido nas redes sociais. Ter um corpo torneado e emagrecer bruscamente sem recorrer a dietas e exercícios, eliminar as bactérias gordurosas que ficam no intestino com uma fórmula revolucionária, usar um "tratamento infalível" para alcançar aquela silhueta de manequim ou mesmo conseguir aquele remédio de uso controlado, sem receita médica e com precinho especial. Esses são alguns exemplos de ofertas que as redes sociais lhe entregam diariamente. Cria-se, assim, o cenário perfeito de "milagres" e "revelações" para introduzir na vida do consumidor determinados produtos e serviços de procedência duvidosa e perigosa.
Estamos diante de um grande "consultório médico" virtual, que são as redes sociais, com atores fazendo as vezes de especialistas nas mais variadas áreas e transmitindo uma credibilidade mentirosa. Diferentemente de outros golpes que envolvem apenas dinheiro, estamos falando de situações que podem impactar algo muito mais precioso que o seu bolso, algo que não tem preço: a sua saúde.
Medicamentos falsificados, ilegais e de uso controlado
Não existe fiscalização no mercado clandestino de remédios. Portanto, saiba que o produto que você está comprando nesse nicho pode ser falsificado. É preciso estar atento ao comprar remédios de fornecedores duvidosos e com preços abaixo do mercado, pois eles podem conter substâncias diferentes da fórmula original. Estima-se que cerca de 15% do mercado nacional de medicamentos sejam falsificados, incluindo medicamentos originais que foram produtos de roubo. Grande parte desses medicamentos piratas são contrabandeados sem qualquer controle de qualidade.
Em alguns casos noticiados, os criminosos chegam a prescrever a dosagem para o comprador, assumindo de fato as vezes do médico e omitindo os riscos do consumo sem o devido acompanhamento. O potencial, no médio e no longo prazo, de desenvolvimento de doenças graves ao se utilizar remédios, suplementos e emagrecedores ilegais, ou mesmo os chamados tarja preta, de uso controlado, sem acompanhamento profissional, é preocupante. Vale destacar, ainda, o risco de câncer e de sequelas em órgãos específicos, dependendo do caso.
A oferta de remédios falsos, ilegais e controlados - sem receita médica - é cada vez maior e configura crime, com penas equiparadas ao tráfico de drogas. A falsificação de medicamentos e a sua venda ilegal são crimes hediondos, classificados pela Lei nº 9.677/1998, que incluem na tipificação delitos contra a saúde pública. O artigo 273 do Código Penal estende a punição não apenas àqueles que falsificam medicamentos, mas também aos que vendem, distribuem ou, de qualquer forma, comercializam produtos sem o devido registro.
Evite o consumo imprudente
Enquanto as forças de segurança atuam na repressão dessas práticas ilegais no ambiente virtual, é fundamental que os consumidores assumam uma postura consciente em relação aos sérios riscos provocados pelo consumo de remédios sem a prescrição de um especialista. A automedicação já é, por si só, uma prática extremamente perigosa. No entanto, quando o cidadão se propõe a comprar medicamentos no mercado ilegal, sem a receita médica necessária, ele está potencializando muito mais esses riscos.
Deve ficar claro que a venda de medicamentos convencionais e terapêuticos deve ser feita apenas por estabelecimentos licenciados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do contrário não podem estar em circulação no país. Tal medida visa garantir que o consumidor não consuma alguma substância perigosa ou sem efeito prático, no caso de medicamentos falsos.
Associação de medicamentos
Quando o cidadão não consulta o médico antes de tomar algum remédio, ele também corre sério risco de se submeter a reações alérgicas ou à associação equivocada com outros remédios que eventualmente esteja consumindo. A interação medicamentosa sem supervisão pode ser desastrosa. Sendo assim, não deixe de procurar um médico para que ele prescreva o medicamento ideal e adquira o medicamento prescrito em farmácias e drogarias autorizadas pela Anvisa.
Importante: medicamentos devem conter bula, informações sobre o fabricante e orientação sobre o uso. Sem essas informações, há boas chances de o produto ser ilegal.
Suplementos falsificados
Com crescimento comprovado do consumo nos últimos anos, estima-se que os suplementos alimentares estejam presentes em mais da metade dos lares brasileiros. Os motivos são muitos, desde melhorar a performance nos treinos até potencializar a imunidade ou aumentar a ingestão de nutrientes. No entanto, muitas vezes os resultados esperados não chegam, por conta da má procedência desses produtos, muitos deles falsificados.
Embora a venda de suplementos falsos seja uma violação aos direitos do consumidor e, por isso, considerada crime previsto no art. 272 do Código Penal, a prática é bem mais comum do que se imagina. Os riscos provocados a quem consome são imprevisíveis. Dependendo da matéria-prima utilizada na fabricação, além de não surtirem o efeito desejado, podem prejudicar a sua saúde.
Em relação a suplementos ofertados na internet, antes de se deixar levar pelas promessas de resultados rápidos é preciso verificar a procedência e a regulamentação desses produtos nos órgãos de controle. Além de evitar golpes que podem tomar o seu dinheiro, nesse caso a prioridade é preservar sua saúde.