Relatos
"Achei que era um príncipe num cavalo branco, mas levei um coice". Foi ao solicitar uma medida protetiva que uma das mulheres assistidas foi convidada pela 12ª Promotoria de Justiça a participar do projeto-piloto. Mesmo há um ano separada, ela expôs que se sentia ainda muito machucada com tudo o que vivenciou.
"Tenho ciência de que essas oito sessões por que passamos não irão resolver tudo, mas nos ajudaram muito, e delas saímos mais fortes. Aprendemos, além de identificar os sinais da violência, a lidar com a situação, a ver de fato as coisas e enfrentá-las de uma outra forma, com mais segurança", comemora.
Entre os planos, ela pretende "tornar-se protagonista da própria história" para escrever um final feliz. "Tomar conta de mim, correr atrás dos meus sonhos, os quais eu tenho certeza de que vou realizar. Aprender a conviver sozinha, independente, como uma laranja inteira, não com uma metade que não vai agregar. Tenho que ser feliz por mim e não por alguém, e agora tenho ainda mais certeza disso", relata.
Outra vítima, esta de violência psicológica e sexual, confessou que até conhecer o projeto se sentia muito sozinha, mas agora vivencia a felicidade pelo amparo encontrado: "Pessoas que passam ou que passaram pelos mesmos problemas, mas que tiveram a sorte de encontrar, no meio desse difícil caminho, profissionais dispostos a ajudar. Deixo a primeira fase do projeto com a sensação de que tenho apoio, de que posso, sim, contar com as pessoas, apesar das feridas deixadas por quem amei".
Ela complementa que o grupo foi um divisor de águas, pois, pela primeira vez, pôde falar sobre a violência sofrida, sem ser julgada. "Além de confirmar que a relação abusiva não escolhe classe social, escolaridade ou cor. Foi libertador: de libertar a dor. Só tenho gratidão pela sensibilidade que tiveram de olhar para a nossa dor e proporcionar esse cuidado", aponta.
Para outra participante, o atendimento não somente serviu para ajudá-la a resolver traumas recentes, como contribuiu para curar antigas feridas. Ela exemplifica que acabou trazendo ao grupo reflexivo uma situação passada, também em meio a um relacionamento abusivo, num contexto bastante complexo de violência psicológica, como caracteriza.
"Que é aquela violência que ninguém vê, que aparentemente não deixa marcas, que não conseguimos entender por vezes o que estamos vivenciando, e eu precisava muito desse espaço de acolhida. Já faz quatro anos que me separei, mas não havia me deparado com um local para que pudesse falar do que eu vivi, trazendo tudo à tona, para trabalhar as minhas próprias questões", diz.