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Um projeto realizado em Lages vem mostrando que é possível se arrepender, reavaliar atitudes e mudar o comportamento. São Grupos Reflexivos para homens com mais de 18 anos que violentaram mulheres física ou psicologicamente, reconheceram os próprios erros e querem uma vida nova.

O projeto foi implantando em 2019 pela 10ª Promotoria de Justiça da Comarca de Lages e acabou sendo incorporado a Rede de Prevenção e Enfrentamento às Violências contra as Mulheres. Essa rede é composta pela Secretaria da Mulher de Lages, pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), pelo Poder Judiciário e pelas Polícias Militar e Civil.

Vários agressores já foram encaminhados para os Grupos Reflexivos. "Muitos homens se acham superiores e entendem que bater em mulher é normal. Essa atitude machista precisa ser confrontada, e os grupos são ambientes propícios para isso", diz a Promotora de Justiça Mônica Lerch Lunardi.

Os encontros acontecem semanalmente em um ambiente seguro para o diálogo e o compartilhamento de experiências. As histórias se conectam automaticamente e os participantes acabam se identificando uns com os outros e se ajudando mutuamente a superar traumas e adotar novas atitudes.

As atividades são orientadas por facilitadores altamente capacitados para lidar com diversos tipos de situação. Esses profissionais foram treinados especialmente para o trabalho e são preparados para abordar temas complexos, como violência de gênero e machismo.

Um desses facilitadores é Charles Andrade Medeiros. Ele é psicólogo, coordena um Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) e dedica-se voluntariamente aos Grupos Reflexivos. "A cada encontro é possível constatar o quão transformadores são esses espaços", relata.

Ele explica que esse trabalho de conscientização voltado ao agressor acaba refletindo diretamente na sociedade. "Na maioria dos casos a relação entre vítima e agressor se dilui definitivamente, mas os grupos preparam o homem para novas relações saudáveis e duradouras", conclui.

Vale ressaltar que a participação nos Grupos Reflexivos não anula o andamento de processos judiciais. O principal objetivo é ajudar o homem a ter um novo tipo de comportamento. Interessados em participar podem procurar a Secretaria da Mulher de Lages.

Uma vida transformada pela força de vontade

Paulo tem 47 anos e é casado há 33 (a união começou aos 14). Ele já foi violento e agressivo com a esposa, mas decidiu procurar ajuda. Foi aconselhado a participar dos Grupos Reflexivos e desde então vem passando por um processo de transformação e amadurecimento. Hoje ele vive uma relação feliz e saudável.      

Por que você foi para o Grupo Reflexivo?

Paulo: Vinha enfrentando uma situação horrível em casa, vivia brigando com a minha esposa. Era um círculo vicioso e eu não queria mais aquilo para mim, então procurei ajuda. Fui encaminhado para o Grupo Reflexivo e consegui entender por que tinha aquele tipo de atitude. A partir daí passei a olhar mais para o lado da minha esposa, da minha família.

O que o Grupo Reflexivo mudou na sua vida?

Paulo: Foi uma virada de chave. Hoje vivo uma mudança gradativa. Mudei em casa, no trabalho e no convívio social. Sempre pergunto para a minha esposa se ela percebe essa mudança, e ela confirma que sim. Isso me deixa muito feliz e motivado a seguir em frente. Mas é uma busca diária. Essa transformação tem que acontecer dia após dia.

O que você tem a dizer sobre os Grupos Reflexivos?

Paulo: O que acontece lá é incrível. Temos uma sintonia muito forte uns com os outros. A gente acaba se ajudando mutuamente. Sou ajudado e fico feliz em conseguir ajudar outras pessoas. Me emociono por ver homens que há algum tempo não tinham nenhum valor para a família e a sociedade sendo transformados.

Hoje, o que você diria para um homem que pensa em agredir uma mulher?

Paulo: Eu diria para ele segurar aquele momento de tensão, sair da situação o mais rápido possível e procurar ajuda. Esse é o primeiro passo. Quem não pede ajuda não muda e pode acabar fazendo coisas cada vez piores. Vivemos em um clima de violência na cidade e no país e é preciso reconhecer as fraquezas e tomar atitudes.

Como é sua relação conjugal agora?

Paulo: Temos uma relação baseada na compreensão. Não existe casal perfeito e claro que às vezes acontece um ou outro conflito de ideias, mas o importante é que aprendi a resolver as coisas do jeito certo. Estou lendo um livro sobre a relação entre o respeito e o amor, e todo esse aprendizado vem refletindo muito bem no meu casamento.

Rádio MPSC

Ouça o MPSC Notícias com a Promotora de Justiça Mônica Lerch Lunardi, que fala mais sobre o projeto.

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